A 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro condenou um homem a nove anos de prisão por roubo qualificado e lesão corporal grave (artigo 157, parágrafo 3º, I, do Código Penal), contra a modelo trans Alice Felis. Ao ser agredida, a modelo teve o maxilar e o nariz quebrados, perdeu dentes da parte superior e foi ferida com uma faca pelo agressor. O caso aconteceu em agosto de 2020 e ganhou uma grande repercussão nas redes sociais.
Os dois se conheceram em um bar, na Rua Miguel Lemos, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Em seguida, eles foram para o apartamento dela, localizado no mesmo bairro. A modelo conta que o homem levou drogas e, em seguida, a agrediu depois de não conseguir concretizar o ato sexual. Ele roubou R$ 4.000 que ela tinha guardado em seu apartamento.
O juiz Marcel Laguna Duque Estrada destacou o comportamento agressivo do acusado, além dele ser reincidente na prática do crime, considerando que ele já tinha um registro de ocorrência por furto. “Verifica-se que a culpabilidade é intensa, haja vista a excessiva agressividade e covardia do acusado, que se põe a praticar roubo dentro da residência da vítima, violando um dos bens mais caros ao ser humano, seu último refúgio, que é o seu lar, além de impor à sociedade grande afronta e perigo; que o réu possui maus antecedentes, pois ostenta condenação em sua folha penal transitada em julgado em data posterior ao fato ora julgado, e que, por isso, não é considerada reincidência; que as circunstâncias do crime ensejam maior censurabilidade, eis que o proceder do réu foi excessivamente reprovável, tendo em vista a extrema má-fé e vilania do agente, utilizando-se da confiança e fragilidade física da vítima como meio de prática do crime, seduzindo-a falaciosamente para induzi-la a convidá-lo para dentro do seu apartamento onde ocorreu o crime”, disse o juiz.
No seu Instagram, Alice postou uma foto na frente do fórum comemorando a sentença ao lado de sua advogada, Fernanda Oliveira. “No mês da visibilidade trans não tem notícia melhor do que uma trans recebendo a justiça dos homens. A impunidade não venceu, valeu a pena não desistir. Para todo mundo que duvidou por algum momento da minha palavra aí está a prova de que trans e travestis não são bagunça. Não aceitaremos mais ser agredidas, eu sobrevivi a transfobia, mas quantas de nós já se foram? Denunciem sempre, não se calem, lutem por justiça. Agradeço a todos que torceram por esse desfecho”, disse na legenda.