Morre a drag queen Kaká di Polly, ativista e ícone da noite paulistana

Faleceu na manhã desta segunda, dia 23, a drag queen Kaká di Polly, aos 61 anos, em São Paulo. A notícia foi confirmada pelo jornalista Chico Felitti no Twitter. De acordo com a amiga Cláudia Cuba, Kaká foi internada após sofrer uma queda de uma escada. Já no hospital ela teve uma parada cardíaca. A ativista foi responsável por fazer com que a primeira Parada LGBT+ acontecer em 1997, deitando no chão, interrompendo o trânsito da Avenida Paulista para que a marcha passasse.

Desde os 14 anos, Kaká di Polly já gostava de se vestir como uma figura meio exagerada. Drag queen há mais de 40 anos, ela era uma referência da noite paulistana e inspiração para outras drags. Em entrevista ao Gay Blog, ela contou sobre como conseguiu fazer a primeira parada LGBT+ acontecer.

“Naquele ano, 1997, foram umas 2.000, 2.500 pessoas. Estávamos na Avenida Paulista, na altura do número 900, quando chegou a notícia para o Beto: um policial veio falar que o trio não iria sair porque havia permitido usar só uma mãozinha (via) da Paulista pra gente, só um ladinho ali, do lado da calçada. Então o trio não ia sair. O carro iria ficar parado ali, como uma manifestação. Aí o Beto me disse: “Kaká, vamos ficar parados aqui e vai terminar aqui, como se fosse uma manifestação”. E eu falei: “Não, não é isso que você combinou com a Prefeitura, não foi combinado que iria andar? Você não tem tudo certinho?”. E, então, ele disse que sim. Falei pra ele: “Fica fria, querida, eu vou ali na frente fazer um negócio e na hora que você vir um rebuliço acontecendo, você pega o carro, coloca o carro andando, que o povo vai atrás. Deixa que eu me viro lá”. Então eu fui pra ponta, esquina ali do Top Center, e simplesmente me embrulhei na bandeira do Brasil como se tivesse com frio e fui andando. De repente fui cambaleando e “plaft”, me joguei no meio da Paulista. Mas me joguei bem nas outras vias onde os carros estavam passando. Aí parou o trânsito. Quando o Roberto de Jesus viu aquilo, ele disse: “Pronto, ela aprontou”. E pegou o carro e colocou pra andar naquela via que podia. Foi aí que o povo foi e invadiu. Quando começou a andar, me levantei fingindo que tinha passado mal. Queriam me levar para o hospital. Meu namorado disse: “Não, não, deixa que ela vai pra casa, ela é cardíaca, sou namorado dela”. Eu estava do lado da Eliana King Kong, que era uma negra enorme e gorda que nem eu. Fui me apoiando nela e perguntei: “Eliana, já estamos bem longe da polícia já?”. E ela olhou pra trás e disse: “Já, velha, por quê?”. Então, eu falei: “Corre, querida”. E aí a gente saiu voada atrás da Parada que já tinha entrado na Paulista. Já tinha tomado três pistas da avenida com o povo todo. No final, os carros ficaram com uma pista só do lado do meio-fio da Paulista, ficando com uma via só da avenida pra eles, porque aquelas 2.500 pessoas saíram andando. Eu fui lá pra frente da Parada, onde eu desde então venho sempre, balançando a bandeira do Brasil com a minha amiga. Todo o mundo com os cartazes e faixas e nós descemos a Consolação até parar na Praça Roosevelt, onde dispersou a primeira Parada. E foi assim que aconteceu”.

Related posts

Protagonista com sexualidade confusa é o ponto alto da série Bebê Rena, na Netflix

Polícia Civil investiga morte de homem gay que estava desaparecido no centro de São Paulo

Após polêmica separação de Davi, Mani Rego volta a trablhar em barraca em Salvador