29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica: onde elas estão nas empresas brasileiras?

O Dia da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto, foi criado em 1996, durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), no Rio de Janeiro. Lá, foi estabelecido que a data seria um marco no país pela busca por direitos e dignidade, pela livre expressão das sexualidades e pela diversidade de orientação sexual e identidade de gênero.

Desde 2008, durante a Conferência Nacional GLBT, a letra L de Lésbica passou a estar na frente da sigla LGBT+ com o intuito de dar maior visibilidade às lésbicas. Hoje, mesmo representando a primeira letra da sigla LGBTQPIAN+, lésbicas continuam sendo invisibilizadas, inclusive dentro do próprio movimento.

Essas mulheres enfrentam grandes desafios e obstáculos, já que a questão da interseccionalidade – mulheres (gênero) e lésbicas (orientação sexual) – potencializa as dificuldades cotidianas enfrentadas pelo acúmulo e sobreposições do enfrentamento ao machismo, misoginia, lesbofobia e afins. “Até a revolução feminista contemporânea ocorrida na segunda metade da década de 1960, mulheres não tinham sequer direito a sexualidade, quem dirá a homossexualidade”, reforça Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós – Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.

Os desafios vêm de diversos setores, como demonstram dados do Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil do Instituto Patrícia Galvão. Divulgado em 2018, o documento mostra que 29% dos assassinatos de mulheres lésbicas ocorrem dentro de sua residência, 89% dos lesbocídios foram causados por homens e 35% das mortes foram cometidas por alguém com vínculo afetivo ou familiar.

Paralelamente à violência que mulheres lésbicas estão expostas todos os dias, apenas por serem quem são, existe outro ponto importante de apagamento que precisamos destacar: a falta de oportunidade para lésbicas dentro das empresas.

De acordo com os dados do estudo inédito Representatividade, Diversidade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, realizado com mais de 26 mil respondentes entre 2019 e 2021, no quadro geral das empresas, lésbicas representam apenas 1% e mulheres bissexuais 1,4%, enquanto mulheres heterossexuais são 29,5%, frente a 64,8% de homens heterossexuais. “Na composição da liderança, em termos de Orientação Sexual, há uma queda de 2 pontos percentuais em relação à autodeclaração no quadro funcional, indicando que o afunilamento na pirâmide hierárquica das empresas segue confirmando a regra de que quanto mais marcadores identitários, menor a presença e a representatividade nas estruturas organizacionais”, ressalta Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós – Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.

Já quando falamos de liderança, os dados são ainda mais alarmantes. Líderes heterossexuais são 96% das autodeclarações e, ainda, como um reflexo da baixa representatividade de mulheres nessas estruturas, observa-se um impacto direto na relação Líderes Gays versus Líderes Lésbicas, cujo percentual chega a ser cerca de 2 vezes maior para os homens, cenário que também se reflete no quadro geral.

“Ainda, de acordo com o estudo da Gestão Kairós, 33% dos casos de discriminação e preconceito relatado pelos(as) respondentes estão relacionados à Diversidade Sexual (Orientação Sexual e Identidade de Gênero) e, não coincidentemente, o segundo grupo mais relacionado é Gênero com 29%, o que conversa diretamente com a baixa representatividade e a baixa taxa de autodeclaração quando falamos da sexualidade de mulheres que carregam esse duplo marcador identitário”, explica a executiva.

Hoje, segundo a Escala Kinsey, pelo menos 20 milhões de brasileiros são homossexuais, então onde estão as mulheres lésbicas dentro desta população?

“Minha percepção é de que as empresas estão mais atentas para a inclusão e valorização da diversidade, mas boa parte das estratégias estão focadas em ações para as outras letras da sigla LGBTQPIAN+. É preciso aprimorar o entendimento e o debate sobre interseccionalidade, e contemplar todas as pessoas nas estratégias empresariais. E fazer desse objetivo uma política séria, de forma que envolva a contratação, retenção, e o desenvolvimento de uma cultura organizacional que olhe para as mulheres lésbicas de forma assertiva e duradoura!”, finaliza a executiva Liliane Rocha.

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